Diário de scaramouche
Em Janeiro construí o spice rack e o suporte para o ecrã de computador.
Agora que a marcenaria e a jardinagem estão orientadas, quero focar-me na reparação da minha primeira bicicleta de Eindhoven, com o objectivo final de a vender. Com isto quero quebrar o que eu sinto como um bloqueio em vender o meu trabalho fora do emprego.
Vou documentar aqui a evolução deste objectivo, descrevendo tanto quanto consiga os pensamentos, obstáculos e quiçá vitórias.
Sobre a marcenaria, hoje a X disse-me que uma amiga sua viu o spice rack e elogiou, antes de saber que tinha sido construído por mim. Nada mau. Construí o suporte para o ecrã no dia 27/01 (há 1 mês e meio) e o organizador no dia 14/02 (há ~1 mês). Estou bastante satisfeito com ambos e aumentaram significativamente o meu conforto. O único reparo a apontar é que o organizador não me deu tanto prazer a construir, por ter demonstrado as lacunas que tenho na marcenaria. Por agora está muito bom e fica o desafio para o futuro de construir um organizador mais refinado.
Na reparação da bicicleta, o grande problema agora está em remover a pedaleira e a cassete. Tive de comprar 2 ferramentas para isso
Os travões também terão de ser reparados
@scaramouche Março a terminar. O grande falhanço deste mês foi a reparação da bicicleta. Apesar de ter comprado as ferramentas para retirar a cassete, não a consegui retirar. Até fui à Decathlon para que o mecânico fizesse por mim e ele também não conseguiu. Dá para sentir que o parafuso da cassete está gasto, e assim a ferramenta não se consegue enroscar. É uma pena porque a bicicleta está relativamente boa em tudo o resto, ie o quadro está bom, as rodas estão boas, o guiador e o selim estão bons.
Na próxima terça-feira será o meu último dia de trabalho no cliente. Depois ficarei apenas na agência. Não sei como será o meu dia-a-dia. Até agora não tenho tido sorte nos poucos empregos a que concorri e que gostaria de experimentar. Noutros que não gostaria tanto, querem-me. Vamos ver como isto se desenrola.
O espectáculo de teatro correu bem. Conseguimos ter lotação esgotada! Foi um alívio ter um desfecho bom para 3 meses de preparação. É real a grande diferença entre ser apenas actor e ser actor/produtor.
Tenho estado a aprender italiano. Preciso de dar um grande impulso nisto, porque agora está em lume brando e assim não aprenderei nada.
@scaramouche
- Quais sao os planos futuros para o side hustle de arranjo de bicicletas?
- Algum exemplo em especifico de empregos que querias experimentar?
- Sinto que nao falamos muito sobre o teu teatro, nao sei grande coisa de detalhes. Agora que o espetaculo ta feito, o que se segue?
- Algum objetivo em especifico com a aprendizagem de italiano?
Quais sao os planos futuros para o side hustle de arranjo de bicicletas?
Agora que cheguei a este obstáculo de não conseguir reparar a bicicleta, não sei ainda como prosseguir. Posso continuar a tentar repará-la, usando um martelo, um maçarico (que não tenho), ou uma serra para metal (que não tenho). Ou posso abandonar esta bicicleta e comprar outra para arranjar. A decidir...
O plano era consertar esta bicicleta e vendê-la. Depois compraria outra para consertar e vender e assim por diante. Com o plano final de (caso estes passos iniciais corressem satisfatoriamente) criar um site onde venderia bicicletas reparadas e personalizadas com valor acrescentado.
Algum exemplo em especifico de empregos que querias experimentar?
Houve um emprego a que concorri que era para ser Data spe******t para um ONG ligada às florestas. Teria de manejar números, pythons, visualizações com gráficos e afins. Achei que seria bom para mim, porque eu sinto-me confortável com números. Também seria bom estar ligado a algo relacionado com florestas, gestão de solos e activismo.
Sinto que nao falamos muito sobre o teu teatro, nao sei grande coisa de detalhes. Agora que o espetáculo ta feito, o que se segue?
Agora estamos no rescaldo ainda. Algumas coisas não correram perfeitamente. Por exemplo, uma das actrizes entrou em cena e rejeitou a proposta de personagem que o actor já em palco lhe deu. Isso é um grande não em teatro de improviso.
Estamos ainda a ver o que queremos individualmente e como grupo. Possivelmente teremos outro espectáculo em Maio.
Algum objetivo em especifico com a aprendizagem de italiano?
Seria bom ter fluência em italiano para poder sentir-me à vontade quando fosse a Itália com a L.
É tempo de olhar para trás e reflectir sobre estes primeiros ~100 dias.
Comecei o ano com alguns receios que infelizmente se vieram a realizar, e tive preocupações inesperadas.
O meu antigo senhorio exigiu que eu lhe pagasse o meu depósito, mais 240 euros. Disse que tinha sido eu a entupir os canos no prédio e que tinha avariado a máquina de lavar loiça. Nunca, nunca, nunca usei a máquina de lavar loiça. Como é possível um inquilino ser responsável pelos canos de um prédio? Tive de envolver um advogado e até fui ameaçado pelo senhorio com uma agência de cobrança de dívidas. Foi bastante stressante.
Tinha receio sobre a minha condição no emprego que sabia que mudaria em Abril. Desgastou-me ter de constantemente repetir que não me interessavam os empregos, que tinha um contrato permanente, que fui eu quem quis sair daquele cliente, que tinha mais que o suficiente para um sabático, que queria uma ONG (e não conseguir) e as várias entrevistas. Foi uma situação feita para me cansar e cansou-me. Rejeitei propostas de emprego e fui rejeitado, enquanto em mim pulava o pensamento natural de "se eu fosse para Portugal, nem precisaria mais de um emprego". Este é um pensamento que me fez mais mal que bem. É um pensamento de escassez. É um pensamento que me levou a querer optimizar gastos para assim me sentir em maior controlo e mais perto da independência financeira no estrangeiro. Optimizar não é necessariamente mau, mas se vier de um sentimento de receio pelo futuro, pode ser bastante nocivo para uma relação. Isto porque o meu cérebro quando entra neste modo de optimização para ganhar controlo fecha-se a outras necessidades intangíveis. É natural e óbvio que uma companheira veja isto como uma exclusão. O meu cérebro é bastante matreiro quando entra nesta espiral de controlo. Pode pensar que disse e se explicou à sua parceira e que ela entendeu, mas na verdade ela apenas foi informada e alinhou por amor. Depois vê o seu companheiro a cortar actividades que não tenham um retorno mensurável.
São coisas a ter em conta no futuro. A vida fez-se para ser vivida. Tenho de ter o discernimento para soltar o controlo, quando esse comportamento causa estragos na minha vida.
A marcenaria e o conserto de bicicletas foram boas ideias para me concentrar no momento. Infelizmente não foram suficientes. A marcenaria foi um sucesso, mas acabou depressa. O conserto de bicicletas foi uma frustração. Usei demasiada energia para o conserto de bicicletas, que nos meses tristonhos de inverno não tinha. Fica a lição para o futuro: no inverno, especialmente se for tão cinzento meteorologicamente como o de 2023, preciso de projectos com vitórias quase certas. O que me leva ao condicionamento físico. Isto foi um sucesso. Estou na minha melhor condição física novamente. Para isto muito contribuiu o novo kettlebell de 28kg que comprei pelo Natal.
Parece-me que o futuro próximo será mais fácil, porque o bom tempo voltou e com isso afasta-se o ímpeto optimizador e voltará a abertura para novas oportunidades, mesmo que não sejam óbvias.
Depois de ter lido os princípios do @Cockluxe, pensei nos meus próprios princípios. Talvez pela fase actual, os princípios em que pensei são focados nas relações inter e intrapessoais.
- Não permito que as palavras de outros sejam impostas sobre mim, seja por simpatia ou pressão, pois é a minha história e cabe-me a mim encontrar as palavras para a contar. Não me importo se usam palavras inapropriadas para me descrever. A minha segurança provém de mim mesmo. Quando quiserem ouvir, responderei. Quando quiserem criticar, ouvirei.
- Numa relação, o ciclo vicioso de feedback pode ser iniciado por um gesto infeliz que provoca uma reação negativa. Para quebrar esse ciclo, a única solução é afastar-me.
- A sobre-intelectualização pode causar efeitos colaterais psicológicos inesperados e indesejados. Agarro no objeto quando estiver imerso no sujeito, e permito a experiência, em vez da análise excessiva.
@scaramouche Tens um exemplo para cada um desses principios? Nao precisa de ter acontecido de facto, e so para me ajudar a visualizar o que significam.
O primeiro tem a ver com as palavras que por simpatia ou pressão eu uso para me descrever. Por simpatia posso ser forçado a querer explicar a minha situação como uma 'fuga dos empregos', um 'não fazer nada'. Essas palavras não são minhas e não as devo usar.
O segundo tem a ver com a ideia de reações e sombras. Se por infelicidade dizes algo que não sentes e magoa alguém com quem te relacionas, poderás causar uma reação nessa pessoa. Algo natural, como um acto de defesa. Infelizmente, pode faltar-te o discernimento para ver que foi apenas uma reação negativa a uma ação infeliz, e poderás responder com outra reação negativa. Com tanta negatividade, as sombras de cada um poderão ser activadas e causar dano. O melhor a fazer é não querer resolver nada e apenas ganhar distância para que ambos vejam com clareza.
O último tem a ver com uma tendência para a introversão e abstração, por vezes quando algo no Mundo exterior precisa de explicação ou do qual é preciso um refúgio. Esta tentativa de cuidar em demasia do 'castelo no ar', pode levar a uma desatenção para com o objecto, a partir do qual o subconsciente se projecta negativamente como forma de compensar. O Jung escreve bastante sobre isto.
Tenho estado a pensar em alguns conceitos de systems thinking e como se aplica a mim neste momento. Um conceito diz que aquilo que percepcionamos como um comportamento negativo do sistema, pode ser em grande medida uma reacção ao agente (eu). O exemplo é da War on drugs dos EUA. A violência nas ruas entre traficantes, consumidores e polícias é em parte uma resposta à acção policial. O sistema reage ao agente. Se o mesmo se retirar, é expectável que a violência baixe.
O mesmo se pode aplicar à vida do individuo. Veremos progresso se o individuo for capaz de se distanciar do sistema onde está inserido e conseguir distinguir aquilo que é a acção natural do sistema e o que é uma reacção a si mesmo. Parece-me que o desafio está em compreender plenamente o sistema.
Outra ideia vem do modelo do Iceberg.
Este é uma representação geral de como systems thinking vê uma resposta do agente ao sistema. Podemos reagir, antecipar, etc.
Terei eu estado a reagir ao sistema, em vez de responder ao mesmo holisticamente? Se sim, foi um erro. Quando a Susana do supermercado me vende 1kg de maçãs, embora eu só tenha pedido meio kilo, poderei reagir com zanga comigo mesmo, depois de ter permitido que o mesmo acontecesse. Será essa a melhor resposta? Os efeitos negativos são óbvios e o sistema tratará de me pontapear. A ideia mais importante é que se se responde a um evento, então o sistema continuará com toda a estrutura que levou àquele evento e reagirá negativamente à nossa resposta. Se eu ficar melindrado e da próxima vez for ríspido com a Susana, a reacção dela poderá causar ainda mais melindre em mim. O melhor será analisar o sistema, entender que ela tem um incentivo para me vender tantas maçãs quanto possa e que eu poderei não gostar de me impor publicamente. Posso adaptar-me ao sistema e estar pronto a recusar o meio kilo adicional se voltar a acontecer, ou levar um saco que apenas carrega meio kilo. Ainda melhor será entender o porquê de ser difícil para mim dizer que não publicamente.
A história das maçãs é de um amigo meu.
@scaramouche Esse modelo do Iceberg faz-me lembrar uma conclusao minha a qual cheguei sozinho algures o ano passado, especificamente a parte mais profunda do iceberg. Engracado ver a mesma ideia explicitada por palavras diferentes. E suponho que esta e' a diferenca fundamental entre o meu Ti e o teu Te. Eu vou buscar estas coisas ao interior e tu ao exterior.
Quanto a historia das macas, levar um saco de meio quilo parece-me uma boa maneira de evitar por completo resolver a falha no modelo mental 😂
Terás verdadeiramente chegado a essa conclusão sozinho, ou terá apenas a tua atenção consciente sido dada à última fase da formação da ideia, ignorando como ela chegou a ti por partes e por caminhos difusos? Terei eu chegado a esta ideia pelo systems thinking, ou terá este conceito ecoado em mim, porque a mesma ideia já se tinha formado em mim?
Eu vejo o Ti e Te e o Ni e Ne como pontes para o Self e para o objecto. A tua ponte consciente de acesso ao teu Self será o Ti, enquanto que a minha é o Ni. A tua ponte para o objecto, ie como o Mundo te vê, é o Ne, enquanto que a minha é o Te. Assim, nós chegamos a conclusões de forma diferente: tu usarás um pensamento lógico, enquanto que eu usarei a minha intuição. Para mim é por vezes difícil explicar uma ideia que a minha intuição consciente me deu. A minha melhor forma de o explicar externamente é usando o Te, em que penso o Mundo logicamente e o preparo para servir a minha ideia. Não me atrevo a explicar como usarás o teu Ne.
Ya, este meu amigo concluiu que a solução seria aceitar que tinha de se impor no futuro. Não tive de dizer nada.
@scaramouche Ja tinhamos discutido a parte de que a ideia surge-nos atraves de processos sobre os quais temos muito pouco controlo, por isso sozinho nunca e' sozinho.
Quanto ao meu Ne. Eu vejo-o como a forma como eu interajo com o Mundo. Uso-o para recolher informacao e processar atraves do Ti. Muitas vezes com um proposito desconhecido para mim proprio. E' uma funcao que olha para o Mundo e ve o que lhe desperta o interesse.