Ao início detestei este livro. Achei-o profundamente aleatório e sem conteúdo. Por exemplo, o caso do pénis grande do José Arcadio, que assim se tinha roçado numa cigana e ela se tinha deixado ir com ele. E todas as outras coisas parvas e inconsequentes que polvilham este livro. Ao regressar do México não tinha vontade de continuar a ler este livro. No entanto, lá para a página 100, comecei a ligar-me a este livro. Sei os nomes da Úrsula, do José Arcadio Buendía, do Coronel Aureliano Buendía, da Amaranta. E ao acabar de ler a resignação do Coronel Aureliano Buendía (página 177), apercebi-me que isto foi um truque. O autor usou esta manha da aleatoriedade, da inconsequência e do brutalismo simplório ****** para me desprender a guarda e criar em mim uma ligação humana a estes personagens.
SPOILER
O segredo de Melquíades foi uma grande desilusão. Tanta gente na família Buendía se deixou enlouquecer pelo Melquíades e depois a sua verdade não me mereceu qualquer importância. Afinal quem era a pessoa certa para quem a Úrsula estava a guardar o tesouro? Pareceu uma ponta solta, que o autor cortou usando o José Arcadio.
É verdade que me consegui interessar pelos personagens e conheço agora o José Arcadio Buendía, o Colonel Aureliano Buendía, a Amaranta, o José Arcadio, o Petro Crespi, o Aureliano Segundo, a Petra Cotes. Mas qual era mensagem do livro? A solidão, obstinação, fatalismo das personagens? Será que este livro era uma história ou mais um novelo com pormenores mágicos, em que sabe bem estar? Talvez a forma de pensar este livro não seja com uma mentalidade de extração, mas sim de prazer. Não se retira muito deste livro, nenhuma moral, nenhuma mensagem, mas lembram-se os detalhes mágicos, sentem-se as memórias que não se viveram senão lendo.